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Silêncio




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Mantinha este post rascunhado desde o dia 21/07 . Todo esse tempo estive bloqueada para manifestar-me, publicamente, sobre o acidente com o Airbus da Tam.
Vivia e ainda vivo muita tristeza . Dor pela dor de tantas pessoas . Revolta em relação a tanta inépcia, descaso, cinismo.
E, claro, muita apreensão (sim, faço parte dessa minoria 'desinteressante') . E não apenas por viajar de avião com freqüência e viver na ponte aérea, passando curtos períodos entre São Paulo e Rio . É pesada a sensação de que, para onde quer que se dirija, entre as fronteiras deste país, a incompetência dos que nos governam nos alcançará .

Não reservarei maior espaço nestas minhas elucubrações a personagens cujas atitudes desrespeitosas e o oportunismo empedernido foram e continuam sendo-nos mostrados a cada noticiário .
Se algum alento em face a esse quadro caótico pode-se ter, é que a situação agora está super-exposta em muitas de suas inúmeras ramificações para exame detido da opinião pública .

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Nunca temi voar . Entrei pela primeira vez em um avião comercial, aos dois anos de idade, justamente saindo de Porto Alegre, rumo ao Rio (minha mãe estava grávida de minha irmã e queria que ela nascesse carioca) . Minha naturalidade em relação às viagens aéreas forjou-se, ao longo de anos, à base de freqüentes deslocamentos, tanto em razão de transferências de meu pai, quanto por injunções de minha profissão, e, claro, por minha sempre paixão pelas viagens (de onde viria o nome deste blog?) .
Tenho experiência de vôo em muitos tipos e tamanhos de aeronave . Na categoria 'aviões não-comerciais', meu currículo de passageira aérea inclui algumas tantas milhas voadas em Bandeirantes, Avros e até em Hércules .
E mesmo o Congonhas . Esse aeroporto tornou-se-me familiar antes, até, de eu usar, com tanta frequência, a ponte aérea .
O Congonhas passou a fazer parte de minha vida, digamos, diuturnamente, logo após eu me estabelecer em São Paulo . Morei por seis anos na chamada "rota dos aviões" . Aliás, em plena rota, ali, na
Rua Tuim , em Moema . Ainda agora, no Campo Belo , continuo muito perto do aeroporto .





Prédios no Campo Belo : Apesar de próximo ao aeroporto, bairro não está na "rota crítica"

Quem, como eu, mora ou morou nesse pedaço da chamada "Moema Pássaros" -- Rouxinol-Macuco-Tuim -- sabe que, passado o período de adaptação ao barulho e à visão de Boeings e Airbus passando, de cinco em cinco minutos , a metros dos cimos dos edifícios (eu morava no décimo andar) , não tarda que se comece a olhar para esses ruidosos gigantes como inofensivas aves fossem . Impressionante mesmo a capacidade de adaptação dos seres humanos a situações que, na teoria mais eloqüentemente posta, pareceriam insustentáveis .






Saindo do Congonhas rumo ao Rio : Área residencial à margem da pista de decolagem


No mais , o Congonhas passou a fazer parte de minha vida quando a cidade, havia muito, tinha-se tornado uma vizinha inoportuna (veja imagens ampliadas, clicando nos thumbs constantes neste post) .
Continuemos com o exemplo do bairro de Moema (até 1987, Indianópolis) . De 1936, quando o Aeroporto de Congonhas foi inaugurado, até meados dos anos 60 , Moema manteve ares bucólicos e jeito de vizinhança interiorana -- nem de longe, assemelhando-se ao amontoado de espigões que hoje se conhece .
Para se ter uma idéia, a Avenida Ibirapuera, a mais importante via do bairro, só foi asfaltada em 1967 (época em que ainda circulavam bondes pelo local). O Shopping Ibirapuera , um dos principais centros comerciais da região, por sua vez, começou a funcionar em 1976 . Foi no início dessa mesma década que a exploração imobiliária do bairro ganhou fôlego .

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Inoperância


De um ano para cá, em função das várias pequenas irregularidades nas descidas e subidas, dos seguidos atrasos, dos aeroportos invariavelmente cheios, já não vinha encarando a ponte aérea sem uma certa apreensão .
Semanas antes do acidente, eu e uma amiga comentávamos que estava tudo tão fora de ordem, que um acontecimento bem mais sério parecia se avizinhar .
Em uma ida para São Paulo, junho passado , cheguei à noite, em dia chuvoso . Ninguém entendeu por que levamos cerca de meia hora dentro do avião , antes de, finalmente, sermos autorizados a desembarcar . Até aí, já vinha testemunhando tantas ocorrências fora dos padrões, que nem mais inquiria quem quer que fosse em busca de alguma explicação .
Essa amiga, com quem também tenho vínculo profissional, voa bastante para o sul e para o interior de Minas Gerais. Ela conta que, há questão de dois meses, o avião em que estava, ao preparar-se para a decolagem, percorreu a pista, e, quando já parecia que sairia do solo, parou de repente . Metros adiante, outro avião começara sua descida. Ela e outros dentro da aeronave ficaram com a nítida sensação de que aquilo não estava "programado" .

Aeroportos operando com infra-estrutura insuficiente, numerosos pousos e decolagens, pilotos cumprindo excesso de horas de vôo , etc.,etc.,etc. . Ainda aprendemos a lidar com a revelação de que submetíamo-nos a mais (e mais graves) irregularidades do que as que começamos a conhecer depois da tragédia com o
vôo da Gol , no ano passado .




Pista de pouso próxima à aldeia yanomami de Maturacá. Foto por Adriana Paiva

Obs.: (Registrei a última das fotos da seleção acima durante descida -- em um bimotor -- na pista de pouso próxima à aldeia yanomami de Maturacá , na fronteira com a Venezuela) .











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