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Dos links fecundos
Correria enlouquecida e um simpático convite, enfim, não me pôde fazer presente, ontem à tarde, aos Desconcertos da Paulista (evento organizado pelo escritor Claudinei Vieira, na Casa das Rosas) .
Daí penso que para menção aos bons (vasta acepção) tarde demais é tempo que não existe .
E uma deixa conduz a outra, a outra, a La O(u)tra .
Viver e fazer links . É também motivada por esse mister de Maria Alzira que me ponho a escrever este post .
Ocorre-me, ao ler ali e acolá essas palavras, o dom que alguns têm de fazer o que os encontros fortuitos não puderam . Vislumbrar elos, fazer a ponte, unir . Condão tanto de juntar (em termos amorosos) pessoas que não se achariam de outra forma, quanto de ajudar a dar corpo àqueles projetos que não viriam à luz, não fosse por esse esforço de colocar no mesmo barco os co-laboradores certos .
E porque uma deixa leva a outra (a outra, a outra ...), arremato este meu post com excertos do relato de um encontro de Maria Alzira Brum Lemos com Hilda Hilst :
" (...) 2 . Em 1997, o Eder Chiodetto me convidou para acompanhá-lo numa visita a Hilda Hilst, a quem ia entrevistar e fotografar para o seu livro O lugar do escritor. Passamos um dia na chácara de Hilda, a "Casa do Sol", em Campinas, onde ela vivia com mais de 50 cães. A escritora emborcou seguidas taças de vinho de Porto e falou de velhice e da isquemia, dos críticos que a chamaram de “velha pervertida” e da Prefeitura a quem devia décadas de IPTU, do seu pai, da sua juventude, de anjos. Disse que nunca morreria, que seria levada pelos Ets, já estava tudo combinado com eles, que a visitavam na chácara. Mostrou-nos um velho jornal espírita no qual uma desbotada ilustração representava uma espécie de paraíso sideral: "logo vou estar lá." Mas todos os assuntos eram pautados, atravessados e definidos por sua entrega radical à criação: "Eu me fechei nesta casa aos 33 anos para criar uma obra literária”, repetia. Eu tinha lido pouca coisa da Hilda e na despedida ela me deu exemplares de suas obras autografados e dedicados: À Alzira, Amor. Da Hilda 1997. Não a tinha visto antes, não voltei a vê-la depois, mas ela me legou a coisa mais valiosa que tinha.
3. Na parede da sala da autora de A Balada de Alzira havia um relógio com os ponteiros quebrados no qual se lia "É mais tarde do que supões". Hilda contou que tinha sido presente de uma amiga que o achara no lixo. O Eder fotografou o relógio e no final de 2006 me deu uma cópia da foto. Coloquei-a na minha sala, perto do computador. Seus ponteiros destrambelhados falam de um perfume que nunca mais, de uma carícia no vazio, da ânsia da criação, de alguma coisa afobada e urgente, disto que irremediavelmente somos: tempo ."
Daí penso que para menção aos bons (vasta acepção) tarde demais é tempo que não existe .
E uma deixa conduz a outra, a outra, a La O(u)tra .
Viver e fazer links . É também motivada por esse mister de Maria Alzira que me ponho a escrever este post .
Ocorre-me, ao ler ali e acolá essas palavras, o dom que alguns têm de fazer o que os encontros fortuitos não puderam . Vislumbrar elos, fazer a ponte, unir . Condão tanto de juntar (em termos amorosos) pessoas que não se achariam de outra forma, quanto de ajudar a dar corpo àqueles projetos que não viriam à luz, não fosse por esse esforço de colocar no mesmo barco os co-laboradores certos .
E porque uma deixa leva a outra (a outra, a outra ...), arremato este meu post com excertos do relato de um encontro de Maria Alzira Brum Lemos com Hilda Hilst :
" (...) 2 . Em 1997, o Eder Chiodetto me convidou para acompanhá-lo numa visita a Hilda Hilst, a quem ia entrevistar e fotografar para o seu livro O lugar do escritor. Passamos um dia na chácara de Hilda, a "Casa do Sol", em Campinas, onde ela vivia com mais de 50 cães. A escritora emborcou seguidas taças de vinho de Porto e falou de velhice e da isquemia, dos críticos que a chamaram de “velha pervertida” e da Prefeitura a quem devia décadas de IPTU, do seu pai, da sua juventude, de anjos. Disse que nunca morreria, que seria levada pelos Ets, já estava tudo combinado com eles, que a visitavam na chácara. Mostrou-nos um velho jornal espírita no qual uma desbotada ilustração representava uma espécie de paraíso sideral: "logo vou estar lá." Mas todos os assuntos eram pautados, atravessados e definidos por sua entrega radical à criação: "Eu me fechei nesta casa aos 33 anos para criar uma obra literária”, repetia. Eu tinha lido pouca coisa da Hilda e na despedida ela me deu exemplares de suas obras autografados e dedicados: À Alzira, Amor. Da Hilda 1997. Não a tinha visto antes, não voltei a vê-la depois, mas ela me legou a coisa mais valiosa que tinha.
3. Na parede da sala da autora de A Balada de Alzira havia um relógio com os ponteiros quebrados no qual se lia "É mais tarde do que supões". Hilda contou que tinha sido presente de uma amiga que o achara no lixo. O Eder fotografou o relógio e no final de 2006 me deu uma cópia da foto. Coloquei-a na minha sala, perto do computador. Seus ponteiros destrambelhados falam de um perfume que nunca mais, de uma carícia no vazio, da ânsia da criação, de alguma coisa afobada e urgente, disto que irremediavelmente somos: tempo ."
(Íntegra do texto aqui)
* * *
Maria Alzira Brum Lemos é (entre outras) jornalista, doutora em Comunicação e Semiótica e editora da Garamond. Seu livro solo : "O Doutor e o Jagunço: Ciência, cultura e mestiçagem em Os Sertões" (Ed. Arte&Ciência).
* * *
Ainda interseções
Mais uma para incluir nessa categoria de acontecimentos que nomeio "das surpreendentes interseções humanas". Há algumas semanas, o Edilson Pantoja, depois de uma escala no Periplus, foi encontrar-me lá no Orkut . E o que o trouxe aqui ? Ambos fomos alunos em História da Filosofia da professora Ângela Maroja, na Universidade Federal do Pará (UFPA) . Detalhe : entre essas nossas experiências acadêmicas há um hiato de quase dez anos .
Faltou contar : Pouco depois, soube, por lá mesmo, que Edilson já fazia parte do círculo de contatos de Maria Alzira, que, por sua vez, fazia parte do meu .
* * *
Leia também : "Bendita Aldeota"
Maria Alzira Brum Lemos é (entre outras) jornalista, doutora em Comunicação e Semiótica e editora da Garamond. Seu livro solo : "O Doutor e o Jagunço: Ciência, cultura e mestiçagem em Os Sertões" (Ed. Arte&Ciência).
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Ainda interseções
Mais uma para incluir nessa categoria de acontecimentos que nomeio "das surpreendentes interseções humanas". Há algumas semanas, o Edilson Pantoja, depois de uma escala no Periplus, foi encontrar-me lá no Orkut . E o que o trouxe aqui ? Ambos fomos alunos em História da Filosofia da professora Ângela Maroja, na Universidade Federal do Pará (UFPA) . Detalhe : entre essas nossas experiências acadêmicas há um hiato de quase dez anos .
Faltou contar : Pouco depois, soube, por lá mesmo, que Edilson já fazia parte do círculo de contatos de Maria Alzira, que, por sua vez, fazia parte do meu .
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Leia também : "Bendita Aldeota"
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