segunda-feira

Feira de moda - Recife - Pernambuco

Mercado Pop - Recife , 1997 . Foto : Adriana Paiva


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M O T E


" REC BEAT : Manguetown reclama falta de representantes do 'mainstream' "

( A chamada é minha, mas a matéria saiu no e-zine A Ponte . Veja excerto ) :

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" (...) Para explicar a ausência de artistas do 'mainstream', o argumento de Gute é muito bom. "Como o festival é gratuito, eu não sou escravo da bilheteria. Assim, tenho a liberdade para fazer uma festa que prima pela qualidade e pelo inusitado. Estou trazendo bandas que, de outra maneira, não viriam tocar aqui (...) "

( Ivan M. Filho )


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Complexo de Greenville

( Por Adriana Paiva )


Mainstream ??! Qual o assunto ?? Festival de Berlim ? Sundance ?! O último filme do Todd Solondz ? Ah ... Não ?
Por essas e outras, é que Seu Suassuna não dá descanso :-) . Paraibano, radicado em Pernambuco, o escritor talvez seja o mais implacável detrator desses enxertos anglófilos na língua portuguesa. Aliás, por motivos semelhantes, Ariano Suassuna jamais enxergou legitimidade no movimento manguebeat. Ele nunca escondeu que julgava sacrílega a fusão de maracatu e batidas eletrônicas. Nem o "Science" escolhido como complemento para o nome artístico de Chico , Suassuna chegou a tolerar.

Há algumas semanas, o músico Otto (ex-Mundo Livre S/A) podia ser visto pagando mico de espécie similar no Programa do Jô. Afoito em elucidar o sentido do trocadilho no título do recém-lançado CD, Condom Black, Otto reconheceu não ter grande intimidade com a língua inglesa. Nem a observação do apresentador sobre o inglês incorreto do título arrefeceu o entusiasmo do moço, que não parava de repetir : "condomblack, candomblé, camisinha preta...entende?"

Os recifenses da ala "mudérna, visse?!" , vez por outra, apresentam sintomas da praga. Chamo a contumácia de "complexo de Greenville" . Lembram do folhetim global ? Então, Greenville era a cidade fictícia onde se passava a trama de uma das trocentas novelas de temática nordestina que a Globo já levou ao ar . Em suas falas carregadas, os personagens entremeavam "nordestinês global" (algo entre acento sergipano e o sotaque recifense) com aquele inglês aprendido no jardim de infância.

O resultado, embora exasperante, soava familiar. Sobretudo , para quem, como eu, já residira pelas bandas onde os autores, supostamente, foram buscar inspiração.
Morei em Olinda durante 8 meses, entre os anos de 1996 e 1997.
A convivência -- ainda que pouco estreita -- com a "nata intelectual" do lugar, nesse período, foi-me suficiente para suspeitar que o cacoete retratado na novela -- levada ao ar 2 meses antes de eu me mudar de Olinda -- era uma sátira com foco definido . Gozação do autor Aguinaldo Silva (pernambucano de Carpina) com os "esclarecidos" da capital ?


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Da Lama -- Apesar da resistência de ilustres como Suassuna , o movimento mangue (beat) deu sinais de que poderia livrar esse povo de um mal que, de resto, não acomete apenas nordestinos.
Chico Science & NZ , Fred 04 e Cia., ao mesclarem elementos da cultura pernambucana a ritmos e signos da modernidade lograram desvelar, para olhos e ouvidos nativos --ainda que por caminhos nada ortodoxos -- a beleza de suas próprias raízes .
Mesmo não podendo prescindir do aval dos pen$antes da banda sul do país -- leia-se MTV / SHOWBIZZ --, o mérito dos "caranguejos com cérebro" não pode ser reduzido.


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Mas, como dizíamos, a tribo dos "caboclos querendo ser ingleses" não se espalhou somente da região sudeste para cima. Representantes da estirpe há em todas as capitais, no interior, no bairro dos Jardins, na Boa Viagem, na Barra da Tijuca, onde quer que se ande.

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É Carnaval ! Trégua, ôxi !


Os festejos de Momo, no entanto, parecem vir redimir alguns desses brasileiros do pecado de negação das origens.
As cidades de Olinda e Recife , nessa época, são invadidas por frevos, maracatus, caboclinhos, troças, homem da meia-noite, mulher do meio-dia, galo da madrugada...
Pernambucanos de todas as classes juntam-se aos turistas nas ruas e ali se testemunha um festival de timbres, melodias, batuques e cores que, arrisco dizer, não tem-se hj o ensejo de assistir em nenhum outro lugar desse país .


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[ Por Adriana Paiva ]